Domingo, 27 de Julho de 2008. Às 5h00 os motores roncaram. Começava ali, em pleno centro de Maputo, uma das mais fantásticas e enriquecedoras experiências da minha vida. 1600kms separavam a caravana de 7 carros do seu destino final.
Segunda-feira, 28 de Julho de 2008. São 19h00 e o travão de mão é puxado pela derradeira vez. Cidade de Tete, zona interior-centro de Moçambique. Hoje percebi porque razão nesta África subsaariana a proporção jipes-carros ligeiros é inversamente proporcional à nossa.
Para trás ficaram cerca de 24 horas líquidas de estrada. Dois pneus furados. 1 tubo de escape sumbetido a uma cirurgia para se aguentar. Uma carrinha sobreaquecida. Dois troços de cerca de 100kms cada, de estrada que só pelo contexto pode ser assim chamada. A coluna ordenada que rasgava imparável metade do país transofrmava-se nessas alturas em algo serpenteante, numa reles tentativa de cada um fintar o maior número possível das verdadeiras crateras que ali encontramos.
Segunda-feira, 28 de Julho de 2008. São 19h00 e o travão de mão é puxado pela derradeira vez. Cidade de Tete, zona interior-centro de Moçambique. Hoje percebi porque razão nesta África subsaariana a proporção jipes-carros ligeiros é inversamente proporcional à nossa.
Para trás ficaram cerca de 24 horas líquidas de estrada. Dois pneus furados. 1 tubo de escape sumbetido a uma cirurgia para se aguentar. Uma carrinha sobreaquecida. Dois troços de cerca de 100kms cada, de estrada que só pelo contexto pode ser assim chamada. A coluna ordenada que rasgava imparável metade do país transofrmava-se nessas alturas em algo serpenteante, numa reles tentativa de cada um fintar o maior número possível das verdadeiras crateras que ali encontramos.
Para além disto fica a mudança da Flora, que a Sul era verde e refrescante, e à medida que do Norte nos aproximámos se foi acastanhando aos poucos. Fica a linha do Trópico de Capricórnio que motivou uma das poucas paragens. Ficam as dezenas de aldeias por que passámos em que todas as casas são de palhota com cobertura em colmo. Pessoas que vivem hoje como os nossos antepassados terão vivido há 300 anos atrás. Ficam na retina também as milhares de pessoas que cruzámos sempre a caminhar para destino não visível, de origem igualmente incógnita. Gente que dá a sensação que caminha porque o tempo tem de ser passado. Caminham como se quisessem convencer a si próprias de que no fim da estrada algo as espera.
E ficaram as crianças. Aquelas que nos acenavam de sorriso no rosto. Aquelas que atiravam terra para a estrada a provar que eram elas quem tapava alguns dos milhares de buracos da estrada, reclamando a justa moeda.
De entre todas as moedas e comida que deixei cair da minha mão para estas crianças de berma de estrada, ficou-me um olhar na memória. O miúdo que a 50kms de de Tete se aproximou de mim quando sentiu o carro abrandar, e pegou de olhos esbugalhados o pacote de bolachas que lhe estendi. Estou a falar de uma criança que não teria mais de 5 anos. Centenas assim. Centenas de crianças que me pergunto se não serão em grande maioria alimentados por forasteiros da Estrada Nacional como nós.
Resposta para aqueles que me perguntam porque raio não dou eu 1 só cêntimo para qualquer instiuição de caridade: porque aquele miúdo é o único que eu tenho a certeza absoluta de que ganhou com a minha doação. Lamento se estou errado, mas enquanto anos não passarem sem ouvir qualquer rumor de fraudes relacionadas com essas doações, continuarei sempre a pensar que, de outra maneira, aquelas bolachas iam ser comidas por uma criança obesa, enquando se esforçava para passar de nível no último grito da PlayStation.
5 comments:
Sem dúvida que é uma experiência enriquecedora e marcante para toda a vida. Estive em Maputo há 12 anos, somente durante 10 horas, e ainda hoje tenho bem viva a imagem das crianças (dezenas) que se aproximavam da carrinha quando esta parava, com um sorriso no rosto que tentava disfarçar a tristeza do seu olhar, “reclamando a justa moeda”.
Espero que continues a partilhar as experiências da tua “aventura” moçambicana, embora saiba que nunca ninguém vai saber, nem tão pouco imaginar como é que isso é na realidade.
Beijos grandes*
Olhar inocente de crianças capazes de matar, roubar... só para comer. Serão criminosas? Não. Criminosa é a vida que é madrasta demais para uns e maravilhosa de mais para outros. Aí não existe um meio termo. Nessa África existe o 8 e o oitenta... depois existem pessoas como tu, que fazem a diferença, mas que infelizmente não são suficientes para mudar o Mundo.
Bjokitas.. da tua priminha!
Miudo ja tinha saudades.
Arrepia constatar que nessa tua jornada profissional, o que te marcará para sempre nao serao as obras que teras para fazer, conseguir que a mao de obra existente realize dentro de prazos os projectos, mas sim o sorriso de uma criança que naquele dia teve um pouco mais de conforto. Nesse dia tu foste, para aquela criança, o que o teu pai é aqui à muitos anos para muitas crianças!
Um abraço directamento do Porto!
NUNO
PS: Quero mais noticias mais vezes!
Mais do que uma experiência profissional, que estou certa te trará muita coisa boa, esta será sem dúvida uma grande lição de vida.
Através dos teus olhos, das tuas palavras espero também eu vir a ser mais rica, mais humana .. alguém melhor.
Continua a partilhar connosco esta tua passagem com a qual temos muito a aprender para além da ténue sensação de minimizarmos esta tão longa distância.
Bjo no coração
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