21 August 2008

Carta aberta à minha Mãe

Não me recordo de alguma vez ter passado esta data sem ti. Talvez esteja enganado, pois tenho uma ideia muito vaga de, há uns anos atrás, estar no Algarve e ter então faltado a este ou qualquer outro compromisso do género. Mas a idade e a ideia do “até já” ajudaram muito na altura a esquecer a distância.

Não creio que hajam palavras – em número ou qualidade – de nível suficiente para expressar o que és e representas, em todos nós que te amamos e temos a honra de assistir, de plateia, à pureza, sinceridade, transparência e alegria com que vais passo a passo colorindo as páginas dos teus e dos nossos dias. Mesmo esse dicionário tão rico que é o nosso, não bastará nunca para traduzir a linguagem do coração de quem gosta e ama. O Pai talvez conseguisse, nas poesias dele. Mas eu não. Nem me atrevo sequer a tentar...

Tenho a sorte de me orgulhar de todas as mulheres que, de uma maneira ou de outra, marcaram a minha vida. Todas elas. Mas a começar em ti, e a acabar sempre sempre em ti.

És exemplar Mãe. Na forma como ris, como falas, como choras, como vives. És inacreditável sobretudo na forma como sofres. A prova cabal que sempre tive da força das mulheres. Percorres o teu caminho, teimando sempre olhar para o lado do arco-íris. Esse mesmo caminho em que já tantas pedras te tentaram derrubar, mas que conseguiste sempre, em silêncio, suportar e ultrapassar.

És alma e vida na nossa casa. Corrijo: és a alma e a vida da nossa casa. Já o eras quando éramos quatro. Continuas a sê-lo agora que somos 6. E por mais que a casa encha, há nela - porque em ti - sempre espaço para mais um. Ou dois, ou vinte, não importa. A nossa fortuna – daquelas verdadeiras, que não se escrevem nem contam – basta e sobra para todos.

Acho que hoje é o primeiro dia, desde que comecei este périplo africano, que sinto dor de saudade. Mas tudo faz parte deste sacrifício que decerto me trará muitas coisas boas, e logo também para ti eu sei. É boa a distância e a escassez para valorizarmos o que temos, e sobretudo quem temos, ao nosso lado.

Mãe há só uma e não a escolhemos, não é? Pois confesso-te, assim em segredo para corares mas não criarmos invejas, que para mim isso ser-me-ia absolutamente indiferente. Critiquem-me os intelectuais pelo cliché, mas tu és mesmo a melhor mãe do Mundo.

Um beijo tão grande quanto longínquo, um abraço tão apertado quanto o meu peito no dia de hoje.

Parabéns Mãe.

6 comments:

BMoreira said...

Puto,

Só para te dizer que não seria qualquer um ou qualquer texto, suficientemente capaz de me deixar "em lágrimas", em pleno gabinete, junto a estranhos, na empresa...!?!?!

Está excelente e a Buda vai adorar...tenho a certeza!!!

Um grande abraço de quem, também por ser o dia que é, vai sentir a tua falta.

Cuida de ti!!!

Bruno

Anonymous said...

Como vês não fui a única a ficar com "os olhos em lágrimas" em pleno local de trabalho.

O teu post está simplesmente lindo... muito profundo.

Beijinhos grandes*

Anonymous said...

Com filhos assim, que escrevem assim, mas q essencialmente 'sentem assim', qual riqueza maior!

Adorei 'ler-te',como à muito o faço, mas agora com o coração apertado e preocupado e claro, saudoso do meu 'puto homem'.

Beijoka do tamanho da bola do mundo,

da BOLINHA

Anonymous said...

Não te conhecia esta faceta de escritor...está fantástico e tocas-te todos os nossos corações o qual fizeram crescer a saudade que temos de ti.
Porta-te bem meu querido

Anonymous said...

Impressionante a força das tuas palavras. Impressionante teres de estar tão longe para te sentir tão perto.
As tuas palavras pela voz embriagada do teu irmão foram sem dúvida tudo o que a tua mãe queria ouvir naquela noite.
Parabéns Pedro!

Anonymous said...

Amei as tuas palavras!!
Apesar de só hoje vir "cuscar" o teu blogue, dou-te os Parabéns por tudo o que escreves, principalmente, às palavras dedicadas à Zitocas, que a todos (pelos vistos e obviamente), tocaste o coração.Beijocas já com saudades!