Lembra de mim!
Dos beijos que escrevi
Nos muros a giz
Os mais bonitos
Continuam por lá
Documentando
Que alguém foi feliz...
Lembra de mim!
Nós dois nas ruas
Provocando os casais
Amando mais
Do que o amor é capaz
Perto daqui
Há tempos atrás...
Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...
Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...
Lembra de mim!...
Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...
Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...
Lembra de mim!...
28 August 2008
Pedido
24 August 2008
Perspectivas
Bela sugestão encontrei aqui para ver com outros olhos estes Jogos Olímpicos. Pena que já acabaram, e que só hoje li este texto. Daqui a 4 anos tenho de me informar sobre estes assuntos mais atempadamente.
21 August 2008
Carta aberta à minha Mãe
Não me recordo de alguma vez ter passado esta data sem ti. Talvez esteja enganado, pois tenho uma ideia muito vaga de, há uns anos atrás, estar no Algarve e ter então faltado a este ou qualquer outro compromisso do género. Mas a idade e a ideia do “até já” ajudaram muito na altura a esquecer a distância.
Não creio que hajam palavras – em número ou qualidade – de nível suficiente para expressar o que és e representas, em todos nós que te amamos e temos a honra de assistir, de plateia, à pureza, sinceridade, transparência e alegria com que vais passo a passo colorindo as páginas dos teus e dos nossos dias. Mesmo esse dicionário tão rico que é o nosso, não bastará nunca para traduzir a linguagem do coração de quem gosta e ama. O Pai talvez conseguisse, nas poesias dele. Mas eu não. Nem me atrevo sequer a tentar...
Tenho a sorte de me orgulhar de todas as mulheres que, de uma maneira ou de outra, marcaram a minha vida. Todas elas. Mas a começar em ti, e a acabar sempre sempre em ti.
És exemplar Mãe. Na forma como ris, como falas, como choras, como vives. És inacreditável sobretudo na forma como sofres. A prova cabal que sempre tive da força das mulheres. Percorres o teu caminho, teimando sempre olhar para o lado do arco-íris. Esse mesmo caminho em que já tantas pedras te tentaram derrubar, mas que conseguiste sempre, em silêncio, suportar e ultrapassar.
És alma e vida na nossa casa. Corrijo: és a alma e a vida da nossa casa. Já o eras quando éramos quatro. Continuas a sê-lo agora que somos 6. E por mais que a casa encha, há nela - porque em ti - sempre espaço para mais um. Ou dois, ou vinte, não importa. A nossa fortuna – daquelas verdadeiras, que não se escrevem nem contam – basta e sobra para todos.
Acho que hoje é o primeiro dia, desde que comecei este périplo africano, que sinto dor de saudade. Mas tudo faz parte deste sacrifício que decerto me trará muitas coisas boas, e logo também para ti eu sei. É boa a distância e a escassez para valorizarmos o que temos, e sobretudo quem temos, ao nosso lado.
Mãe há só uma e não a escolhemos, não é? Pois confesso-te, assim em segredo para corares mas não criarmos invejas, que para mim isso ser-me-ia absolutamente indiferente. Critiquem-me os intelectuais pelo cliché, mas tu és mesmo a melhor mãe do Mundo.
Um beijo tão grande quanto longínquo, um abraço tão apertado quanto o meu peito no dia de hoje.
Parabéns Mãe.
10 August 2008
"A" viagem
Domingo, 27 de Julho de 2008. Às 5h00 os motores roncaram. Começava ali, em pleno centro de Maputo, uma das mais fantásticas e enriquecedoras experiências da minha vida. 1600kms separavam a caravana de 7 carros do seu destino final.
Segunda-feira, 28 de Julho de 2008. São 19h00 e o travão de mão é puxado pela derradeira vez. Cidade de Tete, zona interior-centro de Moçambique. Hoje percebi porque razão nesta África subsaariana a proporção jipes-carros ligeiros é inversamente proporcional à nossa.
Para trás ficaram cerca de 24 horas líquidas de estrada. Dois pneus furados. 1 tubo de escape sumbetido a uma cirurgia para se aguentar. Uma carrinha sobreaquecida. Dois troços de cerca de 100kms cada, de estrada que só pelo contexto pode ser assim chamada. A coluna ordenada que rasgava imparável metade do país transofrmava-se nessas alturas em algo serpenteante, numa reles tentativa de cada um fintar o maior número possível das verdadeiras crateras que ali encontramos.
Segunda-feira, 28 de Julho de 2008. São 19h00 e o travão de mão é puxado pela derradeira vez. Cidade de Tete, zona interior-centro de Moçambique. Hoje percebi porque razão nesta África subsaariana a proporção jipes-carros ligeiros é inversamente proporcional à nossa.
Para trás ficaram cerca de 24 horas líquidas de estrada. Dois pneus furados. 1 tubo de escape sumbetido a uma cirurgia para se aguentar. Uma carrinha sobreaquecida. Dois troços de cerca de 100kms cada, de estrada que só pelo contexto pode ser assim chamada. A coluna ordenada que rasgava imparável metade do país transofrmava-se nessas alturas em algo serpenteante, numa reles tentativa de cada um fintar o maior número possível das verdadeiras crateras que ali encontramos.
Para além disto fica a mudança da Flora, que a Sul era verde e refrescante, e à medida que do Norte nos aproximámos se foi acastanhando aos poucos. Fica a linha do Trópico de Capricórnio que motivou uma das poucas paragens. Ficam as dezenas de aldeias por que passámos em que todas as casas são de palhota com cobertura em colmo. Pessoas que vivem hoje como os nossos antepassados terão vivido há 300 anos atrás. Ficam na retina também as milhares de pessoas que cruzámos sempre a caminhar para destino não visível, de origem igualmente incógnita. Gente que dá a sensação que caminha porque o tempo tem de ser passado. Caminham como se quisessem convencer a si próprias de que no fim da estrada algo as espera.
E ficaram as crianças. Aquelas que nos acenavam de sorriso no rosto. Aquelas que atiravam terra para a estrada a provar que eram elas quem tapava alguns dos milhares de buracos da estrada, reclamando a justa moeda.
De entre todas as moedas e comida que deixei cair da minha mão para estas crianças de berma de estrada, ficou-me um olhar na memória. O miúdo que a 50kms de de Tete se aproximou de mim quando sentiu o carro abrandar, e pegou de olhos esbugalhados o pacote de bolachas que lhe estendi. Estou a falar de uma criança que não teria mais de 5 anos. Centenas assim. Centenas de crianças que me pergunto se não serão em grande maioria alimentados por forasteiros da Estrada Nacional como nós.
Resposta para aqueles que me perguntam porque raio não dou eu 1 só cêntimo para qualquer instiuição de caridade: porque aquele miúdo é o único que eu tenho a certeza absoluta de que ganhou com a minha doação. Lamento se estou errado, mas enquanto anos não passarem sem ouvir qualquer rumor de fraudes relacionadas com essas doações, continuarei sempre a pensar que, de outra maneira, aquelas bolachas iam ser comidas por uma criança obesa, enquando se esforçava para passar de nível no último grito da PlayStation.
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