10 May 2009

Fim-de-semana de sonho? Tete

Sábado: acordar cedo. 8h30. Cedo porque tenho de ir trabalhar, tarde demais para tudo o que tenho para fazer. Sábado de trabalho até às 17h, ansioso pelo sonhado Domingo de sono e descanso. Jogo de futebol até às 19h30. Saio com dores nas virilhas. Jogo do SLB começa às 20h. Trofense marca e decido que é melhor ir jantar do que ficar em casa a sofrer com aquilo. Jantar numa das 4 ou 5 hipóteses possíveis. Menus já nem os abro, sei-os de cor. Durante o jantar confirma-se o empate do Benfica. Mais um. Ainda não cruzei os talheres e recebo um telefonema: incêndio nas palhotas onde os trabalhadores estão alojados. São 22h. Pede-se a conta a correr e vou para a obra. 40 homens desalojados. Sem ferimentos, mas com muitos bens materiais perdidos. Preciso resolver forma de passarem a noite: não negoceio nada, abro a carteira e dou-lhes o que tenho. É pouco mas tem de chegar. Saio com a consciência de que deixo a revolta para trás. Levam-me para um bar, para beber a cerveja do relaxamento. Chego com o Sporting empatado aos 80 minutos. Mesmo que não sirva para nada, dá sempre aquele pequeno gozo de adepto rival. O bar está vazio. Era suposto ir à inauguração duma discoteca. Sem dinheiro, e a ter de acordar cedo no dia seguinte esqueço a ideia. O Sporting marca em cima dos 90. Volto para casa a pensar em todas as vezes que esperei por este Domingo para descansar.

Domingo: acordo cedo. 7h30 tinha sido a hora do despertador. Fico à espera de perceber que tudo era um sonho e que afinal podia dormir à vontade. Nada disso, tinha mesmo 40 homens para alojar. O despertador começa a tocar. Não é comum acordar antes do toque infernal. Olho para o split do Ar Condicionado: de boca aberta mas em silêncio. Foi o calor que me acordou. Mais um Domingo sem energia em Tete. Que é o mesmo que dizer, sem água em casa. O telemóvel resolve bloquear enquanto o despertador toca. Luto com o telefone, nada feito. Ponho-o debaixo da almofada. Desespero. Com esforço contenho um impulso para o atirar contra a parede. Já devo ter acordado a casa toda. Levanto-me em fúria para descobrir o canivete. Descubro a mochila debaixo dum monte de roupa. Atiro-me ao telefone e lá consigo tirar a tampa e a bateria. Silêncio finalmente. Levanto-me a maldizer a sorte. Tiro uma t-shirt para vestir depois da ganga. Lembro-me que vou passar o dia a negociar alugueres de casas e secalhar é melhor vestir algo que transmita maior credibilidade. Calor demais para camisa, fico-me por um pólo. Seguindo o mesmo conceito inibo-me de pegar no boné que me costuma ajudar a disfarçar o mau aspecto do meu cabelo sem o banho matinal. Vou para a obra. Já que na cidade nenhum café tem gerador para me tirar um café, penso que ao menos na obra conseguirei beber um café batido. Falso: gerador avariado. Manhã passada a procurar, visitar e negociar casas, termina a transportar os trabalhadores para os novos aposentos. Às 13h entro na pizzaria para almoçar. A minha cara parece uma fronha amarrotada. Já há energia na cidade, e penso na bela sesta com Ar Condicionado que vou dormir. Depois de almoço e café, tudo pago por alguém porque estou em falência técnica, chego a casa para dormir. Desligo o telefone e caio redondo sobre os lençóis azuis. Acordam-me 40 minutos depois. Primeiro a bater na janela, depois na porta do quarto. Numa das casas negociadas o dono parece querer mudar de ideias. Olho para a TV e vejo o Chelsea marcar o segundo frente ao Arsenal. Penso porque raio o SLB não joga assim. E penso na sorte que o Mourinho tem: o afastamento em descontos da final da Champions, e o ManUnited nas melhores épocas dos últimos tempos, ajudam a esconder que jogam agora tão bem - ou talvez melhor - do que com ele no comando. Vou tomar banho. Penso em como antes achava que os meus colegas que vinham para o Estrangeiro tinham uma vida muito mais folgada que a minha em Lisboa. Já é noite. Tenho de sair e voltar à outra margem do Zambeze. O meu olhar é suficientemente convincente para explicar que não tenho dinheiro para adiantamentos. Volto para casa. Lembro-me que para acabar em beleza, o FCP deve vir mesmo a ser campeão hoje. Convidam-me para jantar. Arranjo uns trocos para pagar o café que se seguiu. Neste momento o jogo do FCP está no intervalo e ainda tudo a zeros. Não sei se vejo o jogo até ao fim. Estou cansado, o meu corpo pede cama. Por outro lado apetece-me esticar ao máximo a distância para a manhã diabólica que me espera amanhã. No desespero ainda sussuro um "Digam-me por favor que amanhã é Domingo". Respondem-me um sorriso compreensivo.
Ok, amanhã começa uma nova semana. E que chegue rapidamente o Domingo para eu descansar...

4 comments:

Anonymous said...

:( o que tu sofres para me pagares o ordenado. :s

Espero que esta semana seja mais tranquila que as anteriores e que passe muito depressa, para que tenhas o descanso que tanto mereces...para que tenhas um "fim-de-semana de sonho"...

Beijo nosso, cheio de saudade*

Anonymous said...

UAU!Que post!
Fiquei...deliciada!
Sabes,quando se está a ler um livro,uma história,e todo o cenário,as personagens,os objectos,são reais?Parece que sentimos as cenas não estando a vivê-las,mas a vê-las num ângulo privilegiado?
É que senti muito! A personagem é deliciosa,corajosa,sensivel!
Fiquei...emocionada!
Fiquei...orgulhosa!
Foi bom,porque"vi-te"no enredo e deu para matar uma milésima da saudade!
Bo-------.

P.S.Esquece uns tempos o S.L.B.
Descansa:)

FD said...

ya ya
quase que me convenceste!!!

é impressionante o que certas pessoas escrevem para ter a atenção das miudas!!!
se queres saber o que é emoção a sério vem trabalhar um dia comigo!!!

;-)

abraço fechado de quem sente muito a tua falta (os almoços de domingo deixaram de ter graça sem ninguém para comentar as nodoas na toalha os jarrinhos da água)

Sandro said...

Li este post umas 3 vezes já..
Engraçado que não o consegui interpretar com a leveza dos outros!
Só imaginava o teu pânico perante isso tudo, o ter de fazer algo sem saber o que fazer...
Fiquei com uma certeza acima de todas as outras, vais crescer imenso com esta experiência! Gosto-te muito primão, mas gosto-te mais quando te leio assim... tão verdadeiro e real.

Um abraço de quem te sente mais perto graças a esta coisa da "net"!
... mas nunca o suficiente...